Especialista em América Latina diz que Cristina Kirchner era ‘um títere’ e sofre um duro golpe, tanto na vida pessoal quanto na política, com a perda do marido.
O casal Kirchner: ela recebeu a faixa, mas aparentemente quem tomava as decisões era ele (Cézaro de Luca/EFE) |
A morte do ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner, nesta quarta-feira, pode trazer grandes alterações na vida política do país. “O fato é equivalente a um terremoto no cenário político nacional, com repercussões também na vizinhança”, diz Alberto Pfeifer, especialista em América Latina e membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint– USP).
O professor de Relações Internacionais acredita que a ausência do "homem forte do governo argentino" será sentida no âmbito externo, já que ele era secretário-geral da União das Nações Sul-americanas (Unasul), e principalmente dentro da Argentina, abrindo espaço para novas correntes no Partido Justicialista. “Cristina Kirchner era quase um títere de seu marido. Além do impacto emocional, vai perder o seu conselheiro político”.
Confira a entrevista completa abaixo.
O que representa a morte de Néstor Kirchner para a política argentina?
A morte de Kirchner é equivalente a um terremoto no cenário político argentino, com repercussões também na vizinhança. Era de conhecimento geral a influência dele sobre a sua esposa, Cristina, e também em outras instâncias da administração. Era ele que articulava a base de apoio ao governo.
As eleições presidenciais só ocorrem daqui a um ano. Como ficará o governo neste ínterim?
A saída de Néstor Kirchner de cena transforma Cristina em uma interrogação muito grande.Vamos ver agora como a presidente conduzirá o governo. Ela deve ter bastante dificuldade. Além do impacto emocional, vai perder o seu conselheiro político. O casal foi colecionando inimigos, se livrando de assessores ao longo do tempo. Foi realmente um golpe muito grande para ela: perdeu o esposo, o companheiro e também a pessoa que a ajudava.
Néstor Kirchner era, de fato, o homem forte do governo?
Era ele que organizava a gestão de Cristina. Ajudava ou mesmo definia as medidas e toda agenda política do governo. Decidia também quais seriam os aliados em torno da presidente. A presidente era quase um títere: um boneco que ocupa um posto para seguir as linhas ditadas por outro. Ela não era política, não tinha nenhuma expressão e só foi alçada à presidência por causa dele. A carreira política de Cristina sempre foi à sombra do marido. Ela havia sido senadora, mas também por causa da influência dele.
Como será a corrida presidencial, em 2011, com a morte de Kirchner?
A morte dele altera todo o cenário político para as eleições de 2011. Candidato ou não, ele seria determinante nesta escolha. Pode até ser que a percepção popular sobre a Cristina não mude, já que o casal era especialista em mau governo. Porém, o mais provável é que ela se enfraqueça, abrindo espaço para que outras correntes dentro do Partido Justicialista se apropriem desse espólio. A tendência é surgir outra força dentro da legenda. Há vários nomes possíveis, mas arriscar um agora seria especulação.
E a oposição pode tirar algum benefício político?
A oposição, provavelmente, terá cuidado porque qualquer movimento agora pode ser entendido como oportunismo. Sempre que uma pessoa morre é assim. Os opositores vão ter de passar um período de luto antes de atacar Cristina. Agora ela estará protegida por esta “dor de viúva”.
E qual será o impacto internacional dessa morte?
Na relação do governo com o mundo, acredito que o impacto será pequeno porque a atual administração já é muito voltada para dentro. Contudo, a ausência de Néstor Kirchner altera as relações de poder na vizinhança, porque ele era secretário-geral da Unasul. Apesar de a organização hoje não ter muito impacto, um dia pode ter. Pelo tipo de linha política que o Kirchner adotava, o bloco tinha direcionamento simpático a países com governos de cunho populista. Ele, pessoalmente, não era de direita nem de esquerda, era pela sua manutenção no poder através do contato direto entre governante e povo: o típico populista.
fonte: VEJA
Um comentário:
Robson,obrigada pela visita em meu blog,seja muito bem vindo,estou te seguindo tbem....tenho certeza que vou ler muitas coisas iteressantes ak...um beijão..
Sol
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